sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O maior amigo de Oscar Wilde

Este blog indagou, há tempos, sobre qual teria sido a personagem mais significativa em toda a trajetória da vida de Oscar Wilde.

Ross com 24 anos
A leitora Judit Martins, que utiliza o pseudônimo de "Nefertari" afirmou que seria Robert Ross. Disse ela, ainda, que
penso que Ross foi o grande, devotado amigo de todas as horas

Sim, ela tem toda razão! Robert Baldwin Ross, escritor, jornalista, crítico literário, foi namorado de Wilde por um tempo e, depois, seguiu sendo o seu grande amigo; aquele com quem Oscar pode contar em todas as horas mais cruéis e dolorosas de sua vida.

Além de ter apoiado e visitado regularmente Oscar durante os dois anos em que esteve preso e enviar regularmente dinheiro para Wilde quando este saiu da prisão - humilhado, destruído moral, familiar e literariamente -, Robert Ross foi o amigo que cuidou de seu enterro e, como testamenteiro literário de Wilde, cuidou de quitar todas as suas dívidas e limpar o nome do grande artista e imprudente amigo.

Após recuperar o nome de Wilde, Robert providenciou a transferência de seus restos mortais para o cemitério Père Lachaise, em Paris, onde mandou construir um monumento para o túmulo. 

Ross faleceu em 05 de outubro de 1918. Sua sobrinha, Margery Ross, editou em 1950 a coleção de cartas de Robert a Wild, em livro com o título emblemático de "Robert Ross - Friend of Friends".

Flores, não beijos
Para o monumento homenageando o amigo e grande escritor, Ross contratou o escultor inglês Jacob Epstein, que ficou famoso por obras que, por expor genitálias masculinas, chocavam o público vitoriano.

Para homenagear Wilde, Epstein concebeu um anjo estilizado, de formas retas e com o sexo à mostra, que chamou de A Esfínge. A escultura ficou pronta em 1912. Era uma de suas primeiras obras. Considerado indecente, por um bom tempo foi mantido recoberto por uma lona impermeável, “por ordem da polícia francesa”. Em 1960, a genitália do anjo foi retirada por um visitante e deixada atirada no chão. 

Recolhida a peça, ao invés de a administração do cemitério providenciar a sua recolocação ou, no mínimo, a guarda e preservação da parte da escultura, a negligência predominou: o membro arrancado do anjo concebido por Epstein para homenagear o gênio de Wilde ficou por anos sendo utilizado como "peso de papel" pela administração, até que veio a desaparecer. Segundo Ricardo Noblat, "em 2000, Leon Johnson, um artista multimídia, resolveu criar e instalar no anjo uma prótese em prata, que é o que está lá até hoje."

Com o passar do tempo, nos anos de 1990, surgiu o hábito de visitantes beijarem a pedra na parte abaixo da esfinge alada, deixando incontáveis marcas de batom. Como a pedra é muito porosa, as substâncias presentes no batom iam penetrando na rocha, obrigando a sua escavação durante as constantes limpezas e comprometendo sua integridade.  Segundo matéria de Dalya Albergue, no sítio da Carta Capital, os admiradores que no início se contentavam em apenas deixar bilhetes, passaram a ofertar quantidades de
beijos e corações de batom [que] foram acompanhados de uma algaravia de grafite vermelho contendo expressões de amor como: “Criança Wilde, nós lembramos de você”, “Continue olhando para as estrelas” e “A verdadeira beleza termina onde começa o intelecto”.Desde então, beijos e corações de batom foram acompanhados de uma algaravia de grafite vermelho contendo expressões de amor como: “Criança Wilde, nós lembramos de você”, “Continue olhando para as estrelas” e “A verdadeira beleza termina onde começa o intelecto”. Surpreendentemente, talvez, a maioria é escrita por mulheres.

Em 1997 o túmulo foi tombado pelo governo francês como patrimônio histórico. Em 29 de novembro de 2011, às vésperas do aniversário de sua morte, seu neto, Merlin Holland (uma das trágicas consequências da derrocada moral que adveio com o processo que respondeu por sodomia, foi sua esposa e seus filhos se verem obrigados a suprimir os sobrenomes de Wilde), juntamente com Dinny McGinley, Ministro das Artes e do Patrimônio do governo irlandês (pátria de nascimento de Oscar), reinauguraram o túmulo, com a barreira de proteção de vidro. Custeada pela Irlanda e construída com a supervisão técnica do  departamento de Monumentos Históricos da França,  ela foi instalada para proteger o monumento da erosão produzida pelos beijos. Ao contrário do afirmado no blog do Noblat, as matérias disponíveis que tratam da restauração e reinauguração afirmam que a escultura não teve o seu membro recolocado.

Merlin Holland, embora tocado com as manifestações de carinho manifestas nos beijos ao túmulo, em defesa de sua conservação, pede que admiradores e admiradoras de Wilde substituam os beijos por flores. Ele agradeceu a iniciativa do governo irlandês em custear a restauração e instalar a proteção pois, como os direitos autorais de Wilde já caíram no domínio público, seus descendentes não teriam como custeá-la.

Desde 1950 também os restos mortais de Robert Ross jazem no mesmo túmulo.

Assista ao vídeo com o neto de Wilde, Merlin Holland.



Faça uma visita virtual ao túmulo de Wilde e Ross, no Pere Lachaise, aqui.



Referências:
HOLLAND, Vyvyan. Oscar Wilde. RJ: Jorge Zahar Editor, 1991.
http://diversao.terra.com.br/arteecultura/noticias/0,,OI5496763-EI3615,00-Reforma+de+tumulo+de+Oscar+Wilde+preve+menos+beijos.html
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2011/11/tumulo-de-oscar-wilde-e-reformado-3580941.html
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1013291-tumulo-de-oscar-wilde-em-paris-sera-protegido-contra-beijos.shtml
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/coberto-de-batom-tumulo-de-oscar-wilde-e-restaurado/
http://www.pere-lachaise.com/perelachaise.php?lang=
http://wikis.lib.ncsu.edu/index.php/Eng_463_Robert_Baldwin_Ross
http://www.nyu.edu/library/bobst/research/fales/exhibits/wilde/9prison.htm